Artes Decorativas
Antes de podermos cuidar do outro necessitamos de nos conhecer a nós próprios.
Lançamo-nos na batalha de “cuidar do outro”, promover o seu desenvolvimento, entregamo-nos ao seu desenvolvimento, mas não deve ser de qualquer maneira. Necessitamos, nós próprios, de nos construirmos, de nos conhecermos, de construir as nossas bases, os nossos alicerces para podermos “cuidar do outro”.
Neste processo de construção para nos conhecermos, procuramos a felicidade, pois sem ela, não nos podemos realizar como seres humanos, sendo assim, como poderíamos cuidar do outro?
Todos os seres humanos procuram a felicidade, ela é e deve ser acessível a todos. A felicidade pode ser encontrada nas coisas mais simples da vida, basta estarmos atentos.
Ao longo da vida as pessoas estão cada vez mais preocupadas em procurar a felicidade em sítios cada vez mais complicados e inacessíveis que acabam por se esquecer que a felicidade está logo ali ao lado, ao virar de uma esquina, numa paisagem de primavera, numa melodia, ao entardecer, num pôr do sol numa praia deserta. Ela está lá, basta procurar e estar disponível para a receber.
Ter gosto pela vida, gostar de viver, ser feliz em comunicar e estar em sintonia com outros seres humanos, viver numa sociedade justa são, também, pressupostos para ser feliz e construir-se como pessoa. Todo o ser humano tem gosto (ou deveria ter gosto) pela vida, respeito pela vida, pela natureza, por todos os seres vivos. Respeito por uma planta, por uma árvore, por um gato, por um cão, por outro indivíduo seu igual, assim vivemos em sintonia. Todos os seres humanos são iguais, todos temos o mesmo valor como seres humanos que somos, independentemente do credo, raça ou sexo. Todos temos o nosso valor e a nossa dignidade logo isso deveria ser uma condição básica para vivermos numa sociedade justa e não numa sociedade onde a riqueza está mal distribuída, onde o rico cada vez está mais rico e o pobre cada vez mais pobre. Onde, de dia para dia há cada vez mais seres humanos, adultos e crianças, a morrer de fome. Onde, diariamente, há cada vez mais seres humanos a sofrer e a morrer nas mãos de outros seres humanos. O que nos leva a outro assunto.
Quando “o outro” nos diz que está a sofrer, por qualquer situação (por uma dor, por estar triste ou porque perdeu qualquer coisa) até que ponto acreditamos ou valorizamos o seu sofrimento, até que ponto temos compaixão pelo seu sofrimento?
A meu ver deveríamos sentir compaixão pelo outro quer ele tenha uma dor crónica ou tenha perdido algo de grande valor para si, porque quando nos dedicamos a cuidar do outro por vocação temos compaixão pelo seu sofrimento quer ele seja grande ou pequeno. Mas será o sofrimento quantificável, podemos medi-lo? O meu sofrimento é maior que o teu? O sofrimento do outro naquela hora, naquele instante pode ser realmente muito grande apesar de pensarmos que não, basta colocarmo-nos no seu lugar, um dia podemos ser nós os sofredores e considerarmos que o nosso sofrimento naquele instante é o maior do mundo. Por isso devemos ter compaixão pelo sofrimento do outro, qualquer que seja o seu sofrimento, porque um dia podemos ser nós a desempenhar o papel de sofredor e ninguém merece sofrer.
Mas ao escrever estas palavras há uma questão que vai surgindo a pouco e pouco no meu espírito e para a qual eu não tenho resposta: será que temos compaixão por um indivíduo que assassinou e que sofre de doença terminal, no seu leito de morte?
Não vou dar resposta a esta questão pois não a tenho para dar, talvez por nunca ter pensado no assunto, ou talvez até pensei mas coloquei logo de parte, porque nunca passei por nenhuma situação destas.
Mencionei anteriormente que ninguém merece sofrer, todos os seres humanos merecem viver uma vida sem sofrimento numa sociedade justa, ou seja, onde todos os seres humanos, independentemente da cor, religião, orientação sexual, cor politica, etc, pudessem ter as mesmas oportunidades, as mesmas hipóteses de escolha para poderem adquirir todos os bens relativos à sua sobrevivência. Para puderem viver uma vida inteira sem esta ser interrompida prematuramente, gozarem de boa saúde física e mental de maneira a ter o seu modo de sustento e a ter o seu abrigo para si e para a sua família. Para puderem comunicar e dialogar com outros seres humanos, ter sentido de justiça, compaixão pelo próximo e pelo ambiente que o rodeia. Interessar-se pelos assuntos da sociedade em que vive, participar activamente nela e exercer o seu direito de voto. Ter direito a uma educação adequada e ter espaço para expressar os seus sentimentos, o seu talento, a expressar-se como ser humano que é. Ser amigo do seu amigo, brincar, jogar, divertir-se, ter prazer em viver em sociedade com outros seres humanos, sem ter vergonha ou medo de sair à rua, sem ter medo de abusos, de violências ou maus-tratos.
Todos os seres humanos merecem viver nestas condições, mas será que existem sociedades assim?